Quem irá garantir que todas as palavras ditas foram verdadeiras? Quem irá garantir que o amor ali prometido era real, ou apenas enganação? O medo perfura as almas envolvidas nesse pequeno jogo de mentiras e verdades. Medo de quê? De tudo realmente ser mentira. Medo de que tudo seja verdade. Medo de si mesmo. Um tremor passa-lhes da cabeça aos pés. É melhor fechar os olhos e sonhar, do que ficar acordado no meio dessas teias.
Dentro e fora de mim há um silencio, uma paz que eu não pedi. Latas de cervejas vazias, e saquinhos de salgadinhos com apenas farelos. Cartas de baralhos espalhados pela mesa e um gato espreguiçando-se. Onde foram as risadas? Onde foram as conversas? Aonde se foi a musica? A tão pouco tempo a felicidade residia aqui, agora há apenas a melancolia de um tempo que já foi, mesmo que ninguém assuma isso. Eu quero chorar o luto, e a saudade de tudo aquilo me assola, mas não sei como, há tanto tempo as lagrimas me abandonaram. Eu odeio assumir que mudei também, que a pessoa que eu era antes morreu e não existe nada. As vezes eu vejo as pessoas sorrirem, dizerem que todas essas mudanças que ocorreram foram ótimas, e as maiores bênçãos que Deus poderia ter dado para nós, mas elas não percebem, eu estou triste, eu não queria tais mudanças, eu quero o meu antigo eu. Eu quero aquele coração rebelde, eu quero aquele riso inocente, aquela voz que cantava tudo, achando que cantava bem, aquelas pernas que dançavam e rodavam em um vestido cor de rosa, só para vê-lo esvoaçar um pouco. Agora a única coisa que reside nessa casca que é o meu corpo, é a melancolia. Eu agora desejo tanto beber, apenas para tentar reencontrar aquele mesmo desejo de viver que a tanto tempo perdi. Dizem que o tempo cura, mas esquece-se que todo machucado deixa uma cicatriz, e quando o machucado foi serio e profundo, deixa uma sequela.
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A solidão olha para mim, sorrindo. Sim, ela está de volta. Fecho meus olhos e abro novamente, mas ela ainda está ali. Ando para trás, mas tropeço em meus erros e ela chega mais perto. Ela tira uma faca do bolso e vem em minha direção. Eu não sei o que fazer, eu não sei como mandá-la embora. Meu rosto é de puro terror e nenhuma palavra, nenhum grito sai de minhas gargantas. Então ela está aqui, ela me golpeia, a dor é muita. Ela não está tentando me matar, apenas deixando sua marca, fazendo doer, me fazendo sofrer. Eu fecho meus olhos e suporto, sei que lutar não vai ajudar em nada. Em algum momento ela irá embora e eu ficarei livre, mas por enquanto, eu vou ter que agüentar essa dor.
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A noite a beira de Copacabana estava vazia, vazia apenas pra mim, afinal, o lugar estava apinhado de pessoas. Eu estava sentado em um dos bancos do calçadão, apenas observando o movimento. Não estava esperando nada além da monotonia para a noite. Até que a vi. Ela não era a mulher mais linda que eu tinha visto, mas tinha sua beleza. Ela era exótica ali, com sua pele cor de leite e os olhos claros. Mas tudo nela me atraia, desde seus delicados pés, as cascatas ruivas de seus cabelos. Eu nunca a havia visto, eu não me esqueceria de uma pessoa daquelas, mas parecia que eu a conhecia a mais tempo, parecia que eu vivi a minha vida toda a espera dela. Ela não olhou pra mim. Passou direto, sem nem notar minha presença. Mas a beleza dela já fez meu coração encher-se de alegria. E isso bastaria por esta noite, porque nas noites que se seguirão eu não descansarei até que a tenha visto mais uma vez, ou que sabe saber teu doce nome para nas profundezas de meus sonhos atemporais chamá-la.
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