O homem. Homo Sapiens. Espécie dominante no Planeta Terra.

O homem se esconde atrás de uma porta azul fechada. Sua vergonha é eminente e toda sua casa é platéia disso. As quatro paredes – 4, 6, 8 ou quantas tiverem na casa de porta azul – assiste aquele show de embriaguês, mudas, como um grupo de fantasmas, como paredes.

O homem, sozinho e solitário homem, vê seu pequeno quarto rodando, sua cabeça dói, e qualquer barulho feito – imaginado ou não – é como um tambor ressonando a menos de 1 metro de distancia. Ele tenta dormir, mas se sente mal demais para relaxar, e ao sentar sente como se todo o seu corpo fosse desintegrar.

O homem. Homo Sapiens, entregado a sua própria mercê, consome o seu corpo pouco a pouco. É como uma situação de vida ou morte, onde nenhuma das opções é a salvação. E como num ciclo sem fim, tudo continua rodando, rodando, rodando... infinitamente.


Conheci uma garota uma vez numa cafeteria bebendo um grande copo de café, ela lia um dos livros de Mario Vargas Llosa e ouvia musicas em seu mp3 velho. O mundo corria ao seu redor, mas o mundo dela era só aquele que envolvia seu café, seu livro e suas musicas. Eventualmente ela parava para trocar a musica que passava, mas nada mais que isso. A observei a tarde toda em que esteve ali, bebendo cafés e ocasionalmente rindo com o livro, parecia algo vindo de outro mundo, contrastando tanto com a vida nesse século XXI. Após ir embora eu fui para minha casa. Cheguei, olhei no espelho, observando as olheiras embaixo de meus olhos e pensei: Por quê eu não consigo fugir da realidade e entrar em um mundo só meu como fez aquela moça na cafeteria? A resposta para essa pergunta eu nunca tive, mas eu ainda procuro a moça da cafeteria todo dia para perguntar-lhe a resposta.


Estou a procura da porta do meu paraíso imaginário novamente. Em algum momento eu o perdi e agora o quero de volta. Aonde está? Em um guarda-roupa? Em uma porta que não se vê do lado de fora? Pode estar em qualquer lugar, mas é difícil de achar. Perdi o caminho a algum tempo e me envolvi tanto no mundo real, que agora que preciso de um escape, não o acho. Será que há alguém capaz de me ajudar? Será que alguém sabe esse caminho melhor do que eu achava que sabia? Estou trabalhando duro, 24 horas por dia, mas até agora pouco progresso, mas não perdi as esperanças, pois as lembranças da leveza que aquilo me trazia ainda está viva.


Acordei hoje e percebi que o que me fazia feliz antes, já não me faz. Aquilo que passei semanas esperando não era realmente o que eu queria. Fiz escolhas precipitadas e inevitavelmente erradas. Tantas coisas poderiam ter sido diferentes e mil vezes melhores. Se arrependimento matasse, provavelmente eu estaria morta.



Vivo de clichês, de frases feitas, de ditados populares. São tantos exemplos que as vezes nem sei estou falando de vida real, ou de algo que não mudaria nada em minha vida. É meio difícil de explicar, talvez eu esteja querendo mesmo é que ninguém preste atenção demais ao que digo e deixe o que quer que seja que eu tenha dito passar. Mais uma das minhas atitudes fracas, demonstrando minha covardia. Só que as coisas estão mudando, sei que o ódio não é um sentimento bom, mas as vezes é inevitável e pelo menos me ajudará a ser mais forte do que antes.


Eu devia parar de ser uma rebelde sem causa, parar de fazer as coisas erradas que eu sei que eu não devia fazer, mas eu não sei evitar. Quando você se acostuma a usar uma mascara você acha seu próprio rosto estranho. As mentiras vêm tão fáceis para mim que se tornam tão simplesmente as verdades da minha vida.  É aquele jogo que você tem medo de perder sem salvar para não voltar lá para o inicio. Mas eu to vendo, daqui a pouco vai chegar uma fase em que se tornará só eu e mais ninguém, pois todo mundo já foi para frente e eu sempre presa nessa mascara. Não há solução, pelo menos eu não consigo vê-la nesse momento. A única coisa que eu penso é fugir, mostrar a todos o quão fraca eu sou verdadeiramente e tornar essa a ultima lembrança deles. Será que existe alguém capaz de me tirar desse ciclo vicioso?


Eu tiro meus óculos de leitura e é quando eles podem ver. Ao redor dos olhos, olheiras. Ainda claras, em formação, manchadas de rímel da noite passada. Mas é dentro dos olhos que eles podem ver.

A verdade tão clara, que cega. Pequenos olhos marrons, tão comuns, mergulhados em flashes rápidos demais para se acompanhar.

É tão ridículo perceber que eles não conseguem ler as mensagens ali tão claras. São pequenos alienados, afinal. Ou será eu a alienada?

Revejo minhas cenas, os flashes, e lá no fundo da minha mente uma voz tenta sobrepor o controle, dizendo o que eles não conseguem ler.

- Hey! Dói ser usada para ter alguns momentos de glória. Nesse jogo não há anestesia.