Eu queria que fosse só nós dois aqui de novo.

Eu me lembro como se fosse ontem, nós rindo das idiotices que cada um fazia. Nossas mãos sujas de farinha enquanto fazíamos aquele bolo de chocolate feito para comer a tarde toda e completamente quente, para depois nós dois disputarmos o banheiro por causa da dor de barriga. Eu ainda me lembro de como o meu cabelo caia em meus olhos e você o colocava atrás da minha orelha como se fizéssemos parte de algum filme de romance repetitivo. Eu ainda me lembro de como você me olhava com luxuria nas preliminares. Eu ainda me lembro quando era só nós dois.

Mas nada disso existe mais, a não ser em minha memória. Agora nós evitamos nos encontrar. Agora nós passamos um pelo outro como se não nos conhecêssemos. Agora nós somos dois desconhecidos.

Por que deixamos isso acontecer? Como isso aconteceu?

Eu só queria que fosse para sempre o que não é mais.


Era mais ou menos 10h da manhã. O Sol estava no alto, poucas nuvens coloriam o céu. O casal de adolescentes sentava de mãos dadas a frente da praia. A garota, loira com os cabelos tão claros que pareciam brancos preso nos dois lados da cabeça, logo abaixo da orelha, devia ter no máximo 16 anos. O garoto, também loiro, mas de algum tom mais dourado tinha os cabelos cacheados e davam-lhe um ar angelical, devia ter uns 17 anos.

Ele falava alguma coisa para ela e a cada palavra seu sorriso aumentava mais. Eles estavam em um mundo só deles, com sorrisos, beijos, juras de amor.

Era difícil dizer a quanto tempo estavam juntos. 2 meses ou 6 anos? Os olhos dela brilhavam de paixão intensa e os deles refletia essa mesma luz. Ali estava um casal que não iria ser separado tão facilmente.


Ele ainda sentia o cheiro dela em sua pele; era inebriante. O sabor dos beijos e o desejo de sentir o gosto doce e suave do sangue dela em sua boca. Nada se comparava aquele gosto. O desejo o estava sufocando e não foi surpresa perceber que havia parado no meio do caminho para sentir a presença dela.

Por estranho que lhe parecesse, sabia onde ela estava naquele momento. Ele sentia o medo dela como se fosse seu, sentia a respiração dela ao seu lado, sabia que ela tentava ser corajosa quando na verdade o pânico a dominava.

As perguntas voltavam a sua cabeça: Qual era a ligação entre eles? Que elo era aquele, tão forte que ele poderia conseguia senti-la ao seu lado mesmo ela não estando ali? Seria possível que o que os unia pudesse superar toda a diferença de seus corpos e almas? E por que o elo parecia aprofundar-se cada vez mais? Começou de forma sutil e quando ele a conheceu, nem a respiração dela conseguia perceber, ela não existia e agora estava tão forte, tão impregnada nele que se ela desaparecesse, ele tinha certeza que morreria de tristeza.

Invasora: A Convocação – J. S. Damolin

Era o seguinte: antes, a diferença entre luz e escuridão era muito simples. Uma era boa e outra má. Porém, de repente, isso deixou de ser tão óbvio. A escuridão ainda era um mistério, algo escondido, algo do qual se tinha medo. Porém, eu passei a sentir medo da luz também. De olhos fechados, eu só via o breu, o que me lembrava desta única coisa: o meu segredo mais profundo. De olhos abertos, havia somente o mundo que não sabia de nada, brilhante, inescapável e, de alguma maneira, ainda lá.

Just Listen - Sarah Dessen

Eu estou contida. Em um lugar que eu não conheço, mas também me lembro. Como se fosse de uma fotografia muito antiga. Olho para as paredes brancas, os quadros de uma fazenda, a cama arrumada, o livro antigo na mesa de cabeceira.

O que era aquilo tudo? O que eu era agora? A que eu fui reduzida? Olho minhas mãos, sem cicatrizes, sem defeitos, as unhas sem esmalte, mas lixadas perfeitamente. Aquela não era eu.

A minha vontade era explodir, mostrar o que eu era, mas eu estava presa, contida por aqueles que eu julgava que ia me proteger. Eles protegeram, mas não sabia que eram de proteger de mim mesma. Agora eu vou me perder em mim mesma, esquecer o que eu sou, os meus gostos, de minhas manias. Serei apenas mais uma maquina no planeta e não há nada e nem ninguém para impedir isso de acontecer.