Estou a procura da porta do meu paraíso imaginário novamente. Em algum momento eu o perdi e agora o quero de volta. Aonde está? Em um guarda-roupa? Em uma porta que não se vê do lado de fora? Pode estar em qualquer lugar, mas é difícil de achar. Perdi o caminho a algum tempo e me envolvi tanto no mundo real, que agora que preciso de um escape, não o acho. Será que há alguém capaz de me ajudar? Será que alguém sabe esse caminho melhor do que eu achava que sabia? Estou trabalhando duro, 24 horas por dia, mas até agora pouco progresso, mas não perdi as esperanças, pois as lembranças da leveza que aquilo me trazia ainda está viva.


Acordei hoje e percebi que o que me fazia feliz antes, já não me faz. Aquilo que passei semanas esperando não era realmente o que eu queria. Fiz escolhas precipitadas e inevitavelmente erradas. Tantas coisas poderiam ter sido diferentes e mil vezes melhores. Se arrependimento matasse, provavelmente eu estaria morta.



Vivo de clichês, de frases feitas, de ditados populares. São tantos exemplos que as vezes nem sei estou falando de vida real, ou de algo que não mudaria nada em minha vida. É meio difícil de explicar, talvez eu esteja querendo mesmo é que ninguém preste atenção demais ao que digo e deixe o que quer que seja que eu tenha dito passar. Mais uma das minhas atitudes fracas, demonstrando minha covardia. Só que as coisas estão mudando, sei que o ódio não é um sentimento bom, mas as vezes é inevitável e pelo menos me ajudará a ser mais forte do que antes.


Eu devia parar de ser uma rebelde sem causa, parar de fazer as coisas erradas que eu sei que eu não devia fazer, mas eu não sei evitar. Quando você se acostuma a usar uma mascara você acha seu próprio rosto estranho. As mentiras vêm tão fáceis para mim que se tornam tão simplesmente as verdades da minha vida.  É aquele jogo que você tem medo de perder sem salvar para não voltar lá para o inicio. Mas eu to vendo, daqui a pouco vai chegar uma fase em que se tornará só eu e mais ninguém, pois todo mundo já foi para frente e eu sempre presa nessa mascara. Não há solução, pelo menos eu não consigo vê-la nesse momento. A única coisa que eu penso é fugir, mostrar a todos o quão fraca eu sou verdadeiramente e tornar essa a ultima lembrança deles. Será que existe alguém capaz de me tirar desse ciclo vicioso?


Eu tiro meus óculos de leitura e é quando eles podem ver. Ao redor dos olhos, olheiras. Ainda claras, em formação, manchadas de rímel da noite passada. Mas é dentro dos olhos que eles podem ver.

A verdade tão clara, que cega. Pequenos olhos marrons, tão comuns, mergulhados em flashes rápidos demais para se acompanhar.

É tão ridículo perceber que eles não conseguem ler as mensagens ali tão claras. São pequenos alienados, afinal. Ou será eu a alienada?

Revejo minhas cenas, os flashes, e lá no fundo da minha mente uma voz tenta sobrepor o controle, dizendo o que eles não conseguem ler.

- Hey! Dói ser usada para ter alguns momentos de glória. Nesse jogo não há anestesia. 

Há alguns meses atrás eu peguei alguns filmes que eu tinha comprado fazia muito tempo e separei os que não havia visto ainda. Entre estes, escolhi A Origem. Lembro-me de ficar abismada com o filme, não parava de pensar nele e no quanto era impressionante. Aquela missão, de inserir uma ideia na cabeça de alguém através de sonhos dentro de sonhos... Eu queria sentir isso, queria construir sonhos da maneira que eles eram capazes... Mas no momento, não é nisso que eu penso, é na missão deles. Na incrível missão de enfiar uma ideia dentro de alguém... Pois vejo, é isso que estão fazendo comigo. Todos eles estão se juntando para que eu faça o que querem. Não quero isso, não quero o que eles querem. Quero me libertar dessa algema e lutar pelo o que eu quero. Gostaria de ser um pouco mais forte do que sou atualmente, mas não é algo muito fácil de lidar. Não perdi as esperanças ainda, irei mostrar a eles que esse muro de concreto que construíram para me obrigar é muito mais fraco do que pensam e que apenas um chute meu botará tudo a baixo.


Estou fumando para não ouvir vocês. Do lado de fora ainda parece ter esperanças. Olho para a rua e está tudo tão vazio. São apenas 21:16 mas não há ninguém nessa cidade vazia. Num lugar distante um rio corre e grilos gritam. Me sinto uma idiota por ter imaginado tanta coisa que nunca vai acontecer. Meu coração está quebrado por idiotices. Não falo nada, deixo você aproveitar. O que eu poderia fazer? Brigar? Fazer papel de idiota? Não éramos um casal propriamente dito, foi só um dia, uma tarde, uns 20 minutos, isso não é nada. Sou apenas uma criança tentando ser mulher. E foi uma tentativa falha, pelo visto. Não serei boa para você, não serei boa para ninguém, eu não sou nada. Apenas mais uma pessoa afogada em esperanças tolas.


Seguir o coração pode ser pular de um abismo onde você sabe que no final, só sobrará restos de você. Mas foi isso que ele resolveu fazer. Não queria ser mais tão racional, sentia sono com seus próprios pensamentos, ele precisava de aventuras, de coisas novas, de adrenalina. E é por isso ele foi em direção ao seu próprio abismo. Foram bons anos aqueles, aqueles em que ele andava para a ponta do abismo. Os sorrisos não eram falsos, eram verdadeiros, e por mais que tudo parecia estar perfeito, da maneira que ele sempre imaginou que serie, ele não percebia que chegava cada vez mais perto do fim, do seu fim. E quando a ponta do abismo desapareceu debaixo dos seus pés, ele sorriu sinceramente por mais uma vez, pois sentia-se voando e deixando todos os problemas e tristezas para trás.


Sorrisos, mãos entrelaçadas, cabelos ao vento. Poderia eu desejar mais? Meu peito bate forte de felicidade e as vezes parece explodir. Poucas coisas passam pela minha cabeça, coisas abstratas, que nem mil palavras traduziriam. Amor, tudo se traduz em amor nesse mundo. Esse mundo meu e seu. Aqui não há inverno, e se há, o teu calor me esquenta e vice-e-versa. Todo dia é primavera, o cheiro das flores estão em todos os lugares, no seu cabelo, na sua camiseta predileta, no seu travesseiro. Sua risada é minha cantiga de ninar, não preciso de mais nada com você aqui. E assim, morrerei sorrindo.
               

 Algum lugar do mundo, domingo, 13 de maio de 2012

                Mãe,

                Como a senhora vai? Eu espero que muito bem, que suas dores nas costas tenham melhorado consideravelmente e que tenha encontrado um novo hobbie que lhe satisfaça. Sei que essa carta chegará atrasada, mas foi proposital, senti que esse ano eu devia escrevê-la realmente no Dia das Mães.
                Como sempre, não lhe direi aonde estou. Espero que já tenha me perdoado por esconder de você minha localização, mas você me conhece, viveu comigo por mais de vinte anos, sabe que certas coisas eu prefiro esconder sem motivos, porque se fosse para dizer, eu teria dito.
                Eu sinto a tua falta. Sinto mais falta ainda da sua comidinha. Você não tem ideia do quanto sinto falta de casa, mas não sei quando voltarei a visitá-la. Você sabe que eu não sigo rotinas, então nem sempre o dinheiro rende.
                Quero que saiba que estou muito feliz. Não, não arrumei um namorado. E também não, não sou lésbica por não ter um. Claro que as vezes conheço alguns caras, mas nenhum deles rendeu muita coisa. Se tivesse rendido, você teria sido a primeira a saber.
                Aonde estou atualmente é muito lindo, mãe. Algum dia juro que te trago aqui, tenho certeza que vai amar. Vou poder te mostrar que estou bem mais organizada do que era quando sai de casa. Você nunca poderia dizer que cuido dessa casa sozinha, mas acredite em mim, eu cuido sim e ela tem estado bem arrumadinha desde sempre.
                Espero que não fique zangada, mas voltei ao habito de pintar meu cabelo. Atualmente mantenho-o vermelho. Você sempre soube o quanto amava essa cor. Anexada a essa carta está uma foto minha atualmente, espero que eu esteja tão bonita como você sempre disse que eu era.
                Estou com saudades suas mãe. Passo noites acordadas com saudades suas. Com vontade de correr para o aeroporto mais próximo e voltar para a casa. Nunca pensei que seria assim, você sabe. Eu era tão sedenta por ir embora, fugindo na primeira oportunidade. Não estou dizendo que me arrependo de ter ido embora, o que eu vi no mundo, eu nuca teria visto se tivesse continuado com você. Mas que tudo o que deixei aí, me faz falta.
                Desejo vê-la em breve, mãe. E que mesmo que eu não esteja aí, que o seu Dia das Mães seja bom.

                               Eu te amo muito
                                               Sua filha.
 Nota da autora: Juro que chorei quando escrevi esse texto, mesmo sendo ficcional.


Quem irá garantir que todas as palavras ditas foram verdadeiras? Quem irá garantir que o amor ali prometido era real, ou apenas enganação? O medo perfura as almas envolvidas nesse pequeno jogo de mentiras e verdades. Medo de quê? De tudo realmente ser mentira. Medo de que tudo seja verdade. Medo de si mesmo. Um tremor passa-lhes da cabeça aos pés. É melhor fechar os olhos e sonhar, do que ficar acordado no meio dessas teias.


Dentro e fora de mim há um silencio, uma paz que eu não pedi. Latas de cervejas vazias, e saquinhos de salgadinhos com apenas farelos. Cartas de baralhos espalhados pela mesa e um gato espreguiçando-se. Onde foram as risadas? Onde foram as conversas? Aonde se foi a musica? A tão pouco tempo a felicidade residia aqui, agora há apenas a melancolia de um tempo que já foi, mesmo que ninguém assuma isso. Eu quero chorar o luto, e a saudade de tudo aquilo me assola, mas não sei como, há tanto tempo as lagrimas me abandonaram. Eu odeio assumir que mudei também, que a pessoa que eu era antes morreu e não existe nada. As vezes eu vejo as pessoas sorrirem, dizerem que todas essas mudanças que ocorreram foram ótimas, e as maiores bênçãos que Deus poderia ter dado para nós, mas elas não percebem, eu estou triste, eu não queria tais mudanças, eu quero o meu antigo eu. Eu quero aquele coração rebelde, eu quero aquele riso inocente, aquela voz que cantava tudo, achando que cantava bem, aquelas pernas que dançavam e rodavam em um vestido cor de rosa, só para vê-lo esvoaçar um pouco. Agora a única coisa que reside nessa casca que é o meu corpo, é a melancolia. Eu agora desejo tanto beber, apenas para tentar reencontrar aquele mesmo desejo de viver que a tanto tempo perdi. Dizem que o tempo cura, mas esquece-se que todo machucado deixa uma cicatriz, e quando o machucado foi serio e profundo, deixa uma sequela.


A solidão olha para mim, sorrindo. Sim, ela está de volta. Fecho meus olhos e abro novamente, mas ela ainda está ali. Ando para trás, mas tropeço em meus erros e ela chega mais perto. Ela tira uma faca do bolso e vem em minha direção. Eu não sei o que fazer, eu não sei como mandá-la embora. Meu rosto é de puro terror e nenhuma palavra, nenhum grito sai de minhas gargantas. Então ela está aqui, ela me golpeia, a dor é muita. Ela não está tentando me matar, apenas deixando sua marca, fazendo doer, me fazendo sofrer. Eu fecho meus olhos e suporto, sei que lutar não vai ajudar em nada. Em algum momento ela irá embora e eu ficarei livre, mas por enquanto, eu vou ter que agüentar essa dor.


A noite a beira de Copacabana estava vazia, vazia apenas pra mim, afinal, o lugar estava apinhado de pessoas. Eu estava sentado em um dos bancos do calçadão, apenas observando o movimento. Não estava esperando nada além da monotonia para a noite. Até que a vi. Ela não era a mulher mais linda que eu tinha visto, mas tinha sua beleza. Ela era exótica ali, com sua pele cor de leite e os olhos claros. Mas tudo nela me atraia, desde seus delicados pés, as cascatas ruivas de seus cabelos. Eu nunca a havia visto, eu não me esqueceria de uma pessoa daquelas, mas parecia que eu a conhecia a mais tempo, parecia que eu vivi a minha vida toda a espera dela. Ela não olhou pra mim. Passou direto, sem nem notar minha presença. Mas a beleza dela já fez meu coração encher-se de alegria. E isso bastaria por esta noite, porque nas noites que se seguirão eu não descansarei até que a tenha visto mais uma vez, ou que sabe saber teu doce nome para nas profundezas de meus sonhos atemporais chamá-la.

O cheiro do medo entra de repente por meu nariz, como se o vento tivesse mudado de direção e trago este odor até mim, mas não há ninguém em quilômetros que poderia exalar um cheiro tão peculiar. Devagar percebo que o odor vem de mim. Sou eu quem está com medo, sou eu a presa agora.

A escuridão me impede de ver qualquer coisa, e não poder ver a fonte do meu medo o faz aumentar. Tento manter-me imóvel, não produzir nenhum ruído, mas a tentativa parece piorar, meu peito move-se mais rápido com a minha respiração e meu coração parece um tambor.

Ouço um sussurro que aos poucos vem mais alto, ele é identificável no começo e eu não sei de onde ele vem ou se vem de minha própria cabeça, mas aos poucos consigo entender as palavras.

“Shh... ficará tudo bem.”

Algo nessas palavras me avisa que o fim está próximo. Um barulho perto de mim me faz ceder aos instintos e gritar, consigo contar até 5 até que a faca me atinge no coração e minha ultima respiração é o meu adeus.